
O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, foi oficialmente anunciado como novo integrante do conselho do Nubank. A nomeação ocorre após o cumprimento do período de “quarentena” exigido pela legislação para ex-dirigentes públicos. Com a entrada no principal banco digital da América Latina, Campos Neto inaugura um novo capítulo em sua trajetória, agora no setor privado, trazendo impactos diretos ao mercado financeiro.
Transição do setor público para o privado
Roberto Campos Neto encerrou seu mandato à frente do Banco Central em dezembro de 2024, após um período de grande destaque na condução da política monetária brasileira. Durante sua gestão, foi responsável por implementar o Sistema de Pagamentos Instantâneos (PIX) e pelo processo de autonomia formal do BC, além de enfrentar os desafios da inflação e da pandemia.
A transição para o setor privado já era especulada nos bastidores desde o fim do seu mandato. No entanto, por imposição legal, Campos Neto precisou respeitar uma quarentena obrigatória de seis meses, durante a qual ficou impedido de assumir cargos em instituições financeiras privadas que pudessem representar conflito de interesse com suas funções anteriores.
Novo cargo no Nubank: o que Campos Neto vai fazer?
O Nubank anunciou que Roberto Campos Neto será membro do Conselho de Administração da empresa. Na prática, ele atuará de forma estratégica, participando da definição de políticas de governança, expansão e inovação do banco digital, que já conta com mais de 90 milhões de clientes na América Latina.
De acordo com o comunicado oficial do Nubank, Campos Neto traz “experiência macroeconômica, visão regulatória e capacidade de gestão pública e privada”. A empresa, que vem ampliando sua presença no México e na Colômbia, espera que o novo conselheiro contribua com insights técnicos e institucionais, especialmente na interlocução com reguladores e na expansão internacional.
Repercussão no mercado e no meio político
A nomeação de Campos Neto teve forte repercussão no mercado financeiro. Analistas avaliam que sua presença no Nubank fortalece a imagem institucional da fintech junto aos investidores globais. As ações do banco chegaram a registrar alta nas primeiras horas após o anúncio, negociadas na Bolsa de Nova York (NYSE) sob o ticker “NU”.
No meio político, a mudança gerou críticas de setores mais à esquerda, que questionam a chamada “porta giratória” entre o setor público e o privado — fenômeno no qual ex-autoridades passam a ocupar cargos em empresas que, em algum momento, foram reguladas por elas. Apesar das críticas, o movimento é permitido por lei, desde que respeitado o prazo de quarentena.
Campos Neto e o futuro do setor financeiro
Com a chegada ao Nubank, Campos Neto reforça uma tendência crescente de integração entre o setor financeiro tradicional e as fintechs. Sua experiência pode ser crucial para o desenvolvimento de novos produtos bancários, integração com o sistema regulatório brasileiro e inserção em mercados mais regulados, como os EUA e a Europa.
O próprio Campos Neto já havia declarado publicamente, em diversas ocasiões, que via com bons olhos o crescimento das fintechs e a digitalização do setor bancário. Durante sua gestão no BC, o órgão incentivou a concorrência no sistema financeiro, abriu espaço para inovações como open finance, sandbox regulatório e moeda digital (Drex).