
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a se posicionar de forma contundente sobre temas sensíveis da economia brasileira durante entrevistas e eventos recentes. Em meio às pressões políticas e embates sobre a condução fiscal do país, Haddad criticou duramente o ex-presidente Jair Bolsonaro, enviou um recado direto ao Congresso Nacional e reforçou seu compromisso com a atualização da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) — uma promessa de campanha do presidente Lula que ainda está em fase de negociação.
A fala de Haddad ocorre num momento de tensão entre o Executivo e o Legislativo, especialmente após derrotas do governo em pautas econômicas, como a manutenção da desoneração da folha de pagamento. Em paralelo, o ex-presidente Bolsonaro tem feito críticas à condução econômica do atual governo, acusando Haddad de adotar medidas que prejudicam o setor produtivo.
Críticas a Bolsonaro e à herança fiscal
Em resposta às declarações de Bolsonaro e aliados, Fernando Haddad não poupou críticas. Segundo o ministro, o governo atual tem enfrentado desafios fiscais deixados pela administração anterior, incluindo um rombo orçamentário considerável e a elevação da dívida pública.
“O que nós herdamos foi uma bomba fiscal. Gastaram sem responsabilidade e agora querem posar de guardiões do equilíbrio fiscal”, disse Haddad. Ele também afirmou que parte do desequilíbrio atual se deve a medidas populistas adotadas em 2022, às vésperas da eleição, como o aumento de benefícios sociais e cortes pontuais de impostos sem compensação fiscal.
Para Haddad, os ataques de Bolsonaro e de parte da oposição não têm consistência técnica. “Eles tentam emparedar o governo, mas ignoram a realidade que nos deixaram. Trabalhamos para arrumar a casa”, declarou o ministro durante um evento com empresários.
Recado ao Congresso: responsabilidade fiscal é dever de todos
O ministro aproveitou para mandar um recado direto ao Congresso Nacional, que recentemente impôs derrotas ao governo em temas como a reoneração da folha de pagamento e a flexibilização do arcabouço fiscal.
“Não é papel só do Executivo manter a responsabilidade fiscal. O Legislativo também tem de assumir essa função com seriedade. Aprovar gastos sem fontes de receita claras pode comprometer a economia e afetar todos os brasileiros”, afirmou Haddad.
Ele alertou que medidas que ampliam gastos públicos sem previsão orçamentária podem minar os esforços do governo para manter o déficit sob controle. A fala veio após o Tribunal de Contas da União (TCU) e o próprio Ministério da Fazenda apontarem risco de colapso fiscal, caso não haja cooperação entre os poderes.
Isenção do Imposto de Renda: prioridade para os mais pobres
Apesar do clima de embate político, Haddad reafirmou o compromisso do governo com a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda. A proposta é isentar trabalhadores que ganham até dois salários mínimos, o que atualmente equivale a R$ 2.824 mensais.
“É um compromisso do presidente Lula e será cumprido. Precisamos fazer justiça tributária e aliviar quem ganha menos. Isso é fundamental para a redução das desigualdades”, declarou.
A última atualização da tabela do IR foi feita em 2023, elevando a faixa de isenção para R$ 2.640. A promessa de campanha era atingir R$ 5 mil até o fim do mandato, mas Haddad reconheceu que o avanço será gradual e condicionado ao equilíbrio das contas públicas.
O ministro também reiterou que a reforma tributária em andamento será fundamental para uma estrutura mais justa e eficiente. Segundo ele, além da simplificação de tributos, é preciso repensar a forma como o IR atinge diferentes faixas de renda, garantindo que os mais ricos contribuam proporcionalmente mais.