
A recente entrada do Irã no grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem provocado importantes movimentações no tabuleiro da política internacional. A inclusão do país persa, formalizada em 2024, fortalece a ala mais crítica do bloco em relação à influência dos Estados Unidos e ao apoio irrestrito dado por Washington às ações militares de Israel no Oriente Médio. A adesão iraniana marca um novo capítulo para os BRICS, que passam a ter uma postura mais clara e unificada em temas sensíveis da geopolítica global.
A presença do Irã, tradicional rival dos EUA e opositor declarado de Israel, contribui para moldar um novo perfil do bloco, que vai além da cooperação econômica e comercial. Agora, os BRICS ampliam sua atuação política e passam a se posicionar com mais firmeza diante de conflitos internacionais — incluindo o prolongado confronto entre Israel e Palestina, intensificado nos últimos anos.
BRICS e o papel geopolítico do Irã
A entrada do Irã nos BRICS tem impacto direto na estrutura e na ideologia do grupo. A nação persa traz para o bloco uma agenda baseada na soberania dos povos, na crítica ao unilateralismo norte-americano e no apoio à causa palestina. Essa nova configuração dos BRICS cria um contraponto às alianças ocidentais, como a OTAN e o G7, principalmente em tempos de guerra e tensões geopolíticas crescentes.
Oficialmente, o Irã foi aceito no grupo junto com outros países como Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, em uma estratégia de ampliação dos BRICS para fortalecer o Sul Global. A partir disso, passou-se a discutir temas como a desdolarização das trocas comerciais, a criação de uma moeda comum e a formação de uma frente diplomática capaz de conter intervenções ocidentais em países do Oriente Médio e da África.
Conflito Israel x Palestina: novo tom nos comunicados do bloco
Desde a ofensiva militar de Israel sobre a Faixa de Gaza em 2023, os BRICS vêm aumentando seu tom crítico contra as ações do governo de Benjamin Netanyahu. A presença do Irã no grupo amplificou essa posição. Em reuniões recentes, líderes dos países membros manifestaram “profunda preocupação com os crimes de guerra cometidos por Israel” e exigiram um cessar-fogo imediato e incondicional.
Além disso, os BRICS têm defendido ativamente a criação de um Estado palestino soberano, com reconhecimento internacional e fronteiras definidas com base nas resoluções da ONU. A entrada do Irã reforça essa pauta e coloca o bloco em rota de colisão diplomática com os Estados Unidos, que tradicionalmente vetam medidas contra Israel no Conselho de Segurança da ONU.
Relação com os EUA se torna ainda mais delicada
A inclusão do Irã torna o relacionamento entre os BRICS e os Estados Unidos mais tenso. Washington vê com desconfiança a aproximação entre países que criticam sua política externa, especialmente em temas como sanções econômicas, apoio militar a Israel e presença no Oriente Médio.
China e Rússia, membros-chave do bloco, já vinham adotando posturas críticas à atuação dos EUA na região. Agora, com o Irã como parceiro estratégico, o bloco ganha mais voz para contestar o monopólio de poder exercido pelos EUA em instituições multilaterais. O objetivo é oferecer uma alternativa política, econômica e diplomática ao que muitos consideram uma “ordem mundial desigual”.
Brasil mantém postura equilibrada
O Brasil, por sua vez, tenta manter uma posição equilibrada dentro do bloco. O presidente Lula defende o fim do conflito entre Israel e Palestina, mas evita tomar partido extremo, buscando preservar relações comerciais e diplomáticas com os dois lados. Ainda assim, o Brasil tem condenado publicamente ataques a civis e reiterado seu apoio a uma solução negociada com mediação internacional.
Lula também é um dos líderes que defendem o fortalecimento dos BRICS como voz legítima do Sul Global, mas ressalta que o bloco deve trabalhar por paz, equilíbrio e desenvolvimento sustentável, evitando discursos agressivos que possam comprometer relações diplomáticas.
Perspectivas futuras
Com o Irã nos BRICS, o grupo deve ganhar ainda mais relevância nos debates sobre segurança internacional, soberania e multipolaridade. A nova configuração amplia a capacidade de influência do bloco em organismos internacionais e desafia diretamente a hegemonia política ocidental.
As próximas cúpulas prometem abordar temas como o reconhecimento do Estado palestino, o impacto das sanções dos EUA sobre países em desenvolvimento e a reforma do Conselho de Segurança da ONU. A presença iraniana dá mais peso à defesa desses temas, consolidando os BRICS como uma força política global — e não apenas econômica.