
Um novo estudo independente, conduzido por especialistas em estatísticas de conflitos e saúde pública, aponta que o número real de palestinos mortos na Faixa de Gaza durante os ataques israelenses pode ser até 65% maior do que o informado pelos dados oficiais. A revelação lança luz sobre uma possível subnotificação significativa no registro de mortes civis em um dos conflitos mais devastadores dos últimos anos.
Os dados foram publicados por uma coalizão de ONGs internacionais, universidades e organizações de direitos humanos, e têm como base cruzamentos de informações de hospitais, famílias de vítimas, serviços de defesa civil e análise por inteligência artificial.
A seguir, entenda os principais achados da pesquisa, como ela foi conduzida e quais são os possíveis impactos políticos, humanitários e diplomáticos da descoberta.
Dados oficiais x estimativa real: qual a diferença?
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, mais de 38 mil palestinos morreram desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023. No entanto, o estudo indica que o número pode ultrapassar 62 mil mortes, considerando os desaparecidos em escombros, civis não registrados formalmente nos hospitais e óbitos indiretos causados por falta de atendimento médico ou desnutrição.
Essa diferença de 65% em relação aos números oficiais seria resultado da incapacidade de registrar todos os óbitos em tempo real, especialmente em áreas destruídas ou sob constante bombardeio.
Metodologia usada no estudo
A pesquisa utilizou diferentes métodos para chegar aos números estimados:
- Sensoriamento remoto e imagens de satélite: identificaram regiões completamente destruídas e estimaram o número de moradores que estavam ali antes da ofensiva.
- Modelagem estatística: baseada em estudos anteriores de mortalidade em zonas de guerra, incluindo Iraque, Síria e Iêmen.
- Dados hospitalares cruzados com registros civis: para identificar inconsistências ou lacunas nos dados de mortes relatadas oficialmente.
- Entrevistas com sobreviventes: relatos de familiares que perderam entes queridos e que, por diversas razões, não conseguiram registrar formalmente os óbitos.
Por que tantas mortes não foram registradas?
Vários fatores explicam a subnotificação:
- Colapso do sistema de saúde: com hospitais bombardeados ou operando com capacidade mínima, muitos óbitos ocorreram sem qualquer documentação.
- Destruição de infraestruturas civis: famílias inteiras foram enterradas sob escombros sem serem localizadas.
- Deslocamento forçado: com mais de 1,5 milhão de pessoas deslocadas, muitos corpos ficaram insepultos e não identificados.
- Controle das informações: autoridades locais muitas vezes não conseguem manter registros organizados em meio à guerra.
Impactos da descoberta
A divulgação desses dados pode ter diversos desdobramentos internacionais:
- Pressão sobre Israel: organizações de direitos humanos já exigem investigações independentes e acusam o governo israelense de uso desproporcional da força.
- Mobilização de apoio internacional a Gaza: com maior evidência do número de vítimas civis, cresce a pressão sobre organismos como ONU e Cruz Vermelha para atuação mais direta.
- Redefinição da narrativa global sobre o conflito: enquanto Israel insiste em que sua ofensiva visa alvos terroristas, a discrepância nos números alimenta o discurso de genocídio ou limpeza étnica por parte de líderes e ativistas internacionais.
- Ações judiciais e denúncias no Tribunal Penal Internacional (TPI): os dados podem ser usados como base para processos formais por crimes de guerra.
Reação da comunidade internacional
Após a publicação do estudo, entidades como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional pediram auditorias independentes e imediatas nos registros de vítimas. A ONU afirmou estar revisando os dados para considerar possíveis atualizações em seus relatórios oficiais.
O governo de Israel, por sua vez, ainda não se manifestou oficialmente sobre a pesquisa, mas fontes ligadas ao Exército afirmam que o país mantém o compromisso de “minimizar baixas civis”.