
Brasileiro perde o pé após pisar em mina proibida durante combate na Ucrânia: uso de armamento ilegal reacende alerta internacional
Um brasileiro que atua como voluntário no Exército da Ucrânia perdeu o pé após pisar em uma mina terrestre russa proibida por tratados internacionais. O caso, ocorrido em junho de 2025, reacende debates sobre o uso de armamentos banidos em zonas de conflito e expõe os riscos enfrentados por combatentes estrangeiros na guerra entre Rússia e Ucrânia, que se arrasta desde 2022.
O brasileiro, identificado como Matheus dos Santos Oliveira, de 29 anos, integrava uma brigada de infantaria na região de Donetsk, uma das áreas mais violentas da linha de frente. Segundo relatos de colegas e fontes ucranianas, ele pisou em uma mina antipessoal POM-3, de fabricação russa, considerada ilegal pela Convenção de Ottawa — tratado assinado por mais de 160 países que proíbe o uso, armazenamento, produção e transferência de minas antipessoais.
A explosão causou a destruição imediata do pé direito do combatente, que foi levado às pressas a um hospital de campanha e depois transferido para Kiev, onde passou por cirurgia de amputação. Apesar da gravidade, Matheus sobreviveu e está em recuperação. Em comunicado, ele afirmou que não se arrepende de lutar ao lado dos ucranianos e reforçou sua convicção de que “está defendendo a liberdade”.
O que é a mina POM-3 e por que ela é proibida?
A mina POM-3 é uma mina antipessoal de detecção por proximidade, equipada com sensores que detectam movimento humano a até 16 metros de distância. Após a detecção, ela se projeta para cima antes de explodir, lançando estilhaços em todas as direções — o que aumenta o potencial de mutilações e mortes.
Esse tipo de armamento é altamente criticado por organizações de direitos humanos por não distinguir civis de combatentes e permanecer ativo por anos após o fim de conflitos. Por isso, seu uso é proibido pela Convenção de Ottawa, da qual a Rússia não é signatária. A Ucrânia, por outro lado, é membro do tratado desde 2005.
Cresce o número de voluntários estrangeiros na guerra da Ucrânia
Matheus é um dos cerca de 240 brasileiros que, segundo estimativas não oficiais, já atuaram como voluntários nas forças armadas ucranianas desde o início da guerra. Muitos são ex-militares, profissionais da área de segurança ou civis com forte motivação ideológica.
A Ucrânia criou uma Legião Internacional de Defesa Territorial em fevereiro de 2022, pouco após o início da invasão russa. Desde então, milhares de estrangeiros se juntaram à causa ucraniana, com a maioria vinda de países da Europa, América Latina e Estados Unidos.
Reação internacional e denúncias sobre uso de minas
O episódio envolvendo o brasileiro ganhou repercussão em veículos internacionais e chamou a atenção de entidades como a Human Rights Watch e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que pedem investigações sobre o uso sistemático de minas POM-3 em áreas civis e rotas de evacuação.
“O uso de armas proibidas por tratados internacionais representa uma grave violação do direito humanitário. Os combatentes, civis e mesmo os voluntários estão sob risco constante de ferimentos irreversíveis”, afirmou em nota a diretora do departamento de armas da HRW, Mary Wareham.
Embora a Rússia negue oficialmente o uso de minas proibidas, imagens de satélite e relatos de campo já comprovaram sua implantação em áreas como Kharkiv, Donetsk e Zaporizhzhia.
Amputações e o trauma de guerra
Casos como o de Matheus se somam aos milhares de amputações registradas desde o início do conflito. De acordo com o Ministério da Saúde da Ucrânia, mais de 20 mil soldados e civis já sofreram amputações de membros em decorrência de minas, explosões ou ataques aéreos.
Organizações internacionais vêm alertando para o que chamam de “epidemia de mutilações”, uma crise de saúde pública agravada pela escassez de próteses, fisioterapeutas e programas de reabilitação.
Matheus, que planeja continuar apoiando a Ucrânia mesmo após a amputação, usará uma prótese oferecida por uma ONG americana. Ele diz que pretende se engajar na conscientização sobre os perigos das minas e no apoio a feridos de guerra.
Brasil se manifesta sobre o caso
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por meio de nota oficial, lamentou o ocorrido e reiterou sua posição contrária ao uso de armas proibidas por convenções internacionais. O Itamaraty também destacou que o brasileiro atua de forma voluntária e sem vínculo com as Forças Armadas do Brasil.
“A participação de brasileiros em conflitos estrangeiros ocorre por decisão própria e fora do alcance da responsabilidade do Estado brasileiro”, afirma o comunicado.
Conclusão: uma guerra que deixa cicatrizes físicas e morais
O caso do brasileiro ferido na Ucrânia não é apenas um relato isolado de tragédia pessoal — é reflexo da brutalidade do conflito e da urgência de reforçar os mecanismos de controle sobre o uso de armamentos proibidos.
Enquanto a guerra continua, o mundo observa não apenas os avanços territoriais ou retrocessos estratégicos, mas também as vidas mutiladas e os direitos humanos violados em meio às explosões. E histórias como a de Matheus nos lembram de que as consequências de um campo minado vão muito além da geopolítica — elas atingem carne, osso e alma.