
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a colocar Cuba no centro das tensões diplomáticas ao restabelecer sanções econômicas e reforçar o veto a viagens de norte-americanos à ilha. A decisão, que reacende o clima de hostilidade entre os dois países, reverte parcialmente o processo de reaproximação iniciado durante o governo de Barack Obama e coloca obstáculos ao turismo e ao comércio entre EUA e Cuba.
A medida foi anunciada em um momento estratégico: Trump intensifica sua campanha para as eleições de 2024 e busca apoio de setores conservadores e da comunidade cubano-americana na Flórida, tradicionalmente contrária ao regime comunista da ilha. As ações incluem o retorno de restrições a transações financeiras, proibição de voos comerciais e cruzeiros com destino a Cuba, além de sanções a empresas ligadas ao governo cubano.
Fim do degelo iniciado por Obama
Durante seu mandato, Barack Obama adotou uma política de abertura com Cuba, restabelecendo relações diplomáticas, facilitando viagens e ampliando o intercâmbio cultural e comercial. A iniciativa foi bem recebida por parte da comunidade internacional e trouxe um alívio econômico para a ilha, que enfrenta décadas de bloqueio econômico dos Estados Unidos.
No entanto, desde que Trump assumiu a presidência em 2017, ele promoveu uma série de reversões nessas medidas. O argumento central do republicano é que o regime cubano continua violando os direitos humanos, apoiando governos autoritários na América Latina — como Venezuela e Nicarágua — e reprimindo seu próprio povo. O restabelecimento das sanções faz parte de uma estratégia de “pressão máxima” para enfraquecer o governo de Miguel Díaz-Canel, sucessor dos irmãos Castro.
Impactos econômicos e sociais em Cuba
O retorno das sanções representa um duro golpe para a economia cubana, que já enfrenta dificuldades severas devido à pandemia, à queda no turismo internacional e à escassez de produtos básicos. Segundo analistas econômicos, o bloqueio dos voos comerciais e de cruzeiros deve causar uma perda imediata de milhões de dólares em receitas, além de afetar pequenos negócios locais que dependem do turismo estrangeiro.
Além disso, a proibição de transações com empresas estatais cubanas — especialmente aquelas ligadas ao setor militar e hoteleiro — limita o acesso da ilha a investimentos e dificulta o funcionamento de diversos setores estratégicos.
O governo cubano reagiu com duras críticas, classificando a medida como uma “política hostil, antiquada e ineficaz”. Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba afirmou que os Estados Unidos estão interferindo de forma arbitrária nos assuntos internos do país e penalizando injustamente o povo cubano.
Restrições a viagens: impacto para americanos e cubanos
Entre as sanções mais controversas está a restrição a viagens de cidadãos norte-americanos à ilha, incluindo o fim das permissões para viagens educacionais, culturais e religiosas — formas anteriormente utilizadas para contornar o embargo. As únicas exceções previstas são visitas familiares e missões diplomáticas.
Com isso, milhares de americanos que planejavam visitar Cuba em 2025 serão afetados. O setor de turismo na ilha, que já estava em recuperação parcial após os efeitos da pandemia, tende a sofrer uma retração ainda mais severa.
Também será dificultado o envio de remessas financeiras de familiares que vivem nos EUA para parentes em Cuba, uma prática comum entre exilados cubanos e suas famílias, que dependem dessas remessas para sobreviver.
Repercussão internacional e nas eleições
A medida teve repercussão internacional. Países europeus, o Canadá e até setores progressistas dentro dos EUA criticaram a retomada das sanções. Para muitos, a política de isolamento não surte efeitos práticos para promover mudanças políticas na ilha, mas aprofunda o sofrimento da população cubana e isola os Estados Unidos diplomaticamente.
Já entre os conservadores e membros da comunidade cubano-americana de Miami, o gesto de Trump foi bem recebido. Muitos enxergam a medida como um acerto político e uma reafirmação dos valores democráticos frente ao regime comunista cubano.
Especialistas em política internacional avaliam que a retomada das sanções pode ter mais impacto eleitoral do que diplomático, já que Trump tenta se consolidar como o candidato que representa a “linha dura” contra regimes autoritários no continente.