
Um mês após a implementação do novo e polêmico sistema de distribuição de ajuda humanitária em Gaza, a situação no território palestino continua dramática. Longe de trazer alívio à população, a iniciativa tem sido alvo de críticas de organizações internacionais, trabalhadores humanitários e líderes locais, que apontam aumento da insegurança alimentar, distribuição desigual e até manipulação política dos recursos.
A proposta, anunciada com apoio de Israel e parceiros ocidentais, previa a criação de corredores humanitários controlados por forças internacionais e o uso de tecnologia para rastrear os insumos destinados à população. No entanto, na prática, o novo modelo não conseguiu garantir acesso seguro e constante aos civis, sobretudo nas regiões mais afetadas pelos bombardeios e deslocamentos forçados.
Cresce o número de pessoas em situação de fome severa
Relatórios recentes da ONU e do Programa Mundial de Alimentos (PMA) indicam que mais de 80% da população de Gaza vive hoje em insegurança alimentar extrema, e quase 500 mil pessoas estão à beira da fome. A escassez de alimentos, medicamentos e água potável se agravou desde o início do novo sistema, com muitas famílias relatando que ficam dias sem acesso a qualquer tipo de ajuda.
A concentração da entrega em pontos fixos, sob forte vigilância militar, tem gerado confrontos e tumultos, principalmente em áreas densamente povoadas. “A distribuição não é apenas ineficiente — ela é perigosa”, alertou um funcionário da ONU que atua na Faixa de Gaza.
Críticas ao controle político e militar da ajuda
Diversas organizações humanitárias acusam Israel e autoridades locais de usarem o sistema para controlar a população e limitar o alcance de ONGs independentes. Há denúncias de que grupos armados interceptam caminhões de suprimentos, desviando parte dos mantimentos para militantes ou para uso em negociações políticas.
Além disso, o novo modelo limita a atuação de agências como a ONU, Crescente Vermelho e Médicos Sem Fronteiras, que reclamam da falta de transparência, segurança e autonomia para atender as comunidades mais necessitadas.
Situação nos abrigos e hospitais é desesperadora
Nos campos de refugiados e abrigos improvisados, milhares de palestinos vivem amontoados em condições precárias. Hospitais operam com suprimentos mínimos e energia elétrica intermitente. Muitas unidades médicas foram destruídas ou evacuadas após ataques recentes, e o bloqueio de combustível impõe limitações severas ao funcionamento de incubadoras, máquinas de diálise e aparelhos cirúrgicos.
“Estamos vendo crianças morrerem por desnutrição e infecções simples. É uma catástrofe humanitária silenciosa”, declarou um médico palestino voluntário.
Comunidade internacional pressiona por revisão do sistema
Diante do agravamento da crise, países europeus e entidades multilaterais têm pressionado Israel e autoridades palestinas para que o modelo de distribuição seja revisto com urgência. Uma das propostas em discussão é a criação de uma zona humanitária independente, gerida exclusivamente por agências da ONU, com acesso facilitado e garantias de segurança para os civis.
O Egito e o Catar também têm atuado como mediadores, propondo a reativação da ajuda via fronteira de Rafah — hoje parcialmente bloqueada — como alternativa emergencial para evitar um colapso total.