
O cenário geopolítico internacional vem testemunhando uma nova corrida nuclear, impulsionada por tensões entre grandes potências como Estados Unidos, Rússia e China, além de avanços tecnológicos em países como Índia, Coreia do Norte e Irã. Nesse contexto de rearmamento estratégico e competição por influência global, surge uma pergunta cada vez mais pertinente: qual é o papel do Brasil nesse novo tabuleiro atômico?
Embora o Brasil não possua armamento nuclear e mantenha uma postura historicamente pacifista em relação à proliferação de armas atômicas, o país desempenha um papel-chave em debates sobre energia nuclear, tratados internacionais e equilíbrio diplomático, sendo observado com atenção por potências e organizações multilaterais.
Brasil e o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP)
Desde 1998, o Brasil é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que busca evitar a disseminação de armas nucleares, promover o desarmamento e garantir o uso pacífico da energia atômica. O país também faz parte do Acordo Quadripartite com a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC), que permite inspeções mútuas e fortalece a confiança regional.
Apesar de ser um defensor ativo da não proliferação, o Brasil mantém uma postura crítica ao desequilíbrio do TNP, que permite que países como EUA, China, França, Reino Unido e Rússia tenham arsenais nucleares, enquanto outros não podem sequer cogitar desenvolver esse tipo de armamento. Por isso, o país exige tratamento equitativo e desarmamento real das potências como condição para a legitimidade do tratado.
Programa nuclear brasileiro: foco pacífico, mas estratégico
O Brasil possui um dos mais avançados programas nucleares da América Latina, com dois reatores em funcionamento em Angra dos Reis (RJ) e um terceiro em construção. O país domina o ciclo do enriquecimento de urânio, o que levanta especulações entre analistas internacionais sobre seu potencial de, tecnicamente, desenvolver armamento nuclear — embora o governo brasileiro reitere seu compromisso com o uso pacífico da tecnologia.
Outro aspecto estratégico é o Programa de Desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear (PROSUB), realizado em parceria com a França. Embora o submarino nuclear não leve armas atômicas, ele representa um salto tecnológico e geopolítico, elevando o Brasil a um novo patamar de influência militar no Atlântico Sul.
Cresce a pressão internacional sobre países com tecnologia nuclear
Com o recrudescimento de conflitos internacionais — como a guerra na Ucrânia e as tensões no Indo-Pacífico —, países que dominam parte do ciclo nuclear, como o Brasil, têm sido pressionados a reforçar seus compromissos com a transparência e a limitar possíveis brechas para uso militar. Os Estados Unidos, por exemplo, já expressaram preocupação com projetos autônomos que escapam da fiscalização plena da AIEA.
No entanto, o Brasil vem se posicionando com firmeza, defendendo sua soberania tecnológica e sua capacidade de desenvolver projetos nucleares sem intenção bélica, como é o caso do uso da energia nuclear na medicina, agricultura e segurança energética.
Diplomacia ativa e liderança regional
Na América do Sul, o Brasil é visto como líder natural na mediação de políticas de desarmamento e uso pacífico da energia atômica. Com tradição diplomática sólida, o país tem promovido debates na ONU e na AIEA para que o desarmamento seja tratado com maior seriedade pelas potências nucleares e para garantir que países em desenvolvimento tenham acesso justo à tecnologia nuclear pacífica.
Ao mesmo tempo, o Brasil busca garantir que o Atlântico Sul permaneça uma zona livre de armas nucleares, conforme estabelecido no Tratado de Tlatelolco, reforçando sua posição como defensor da paz e da estabilidade regional.