
O governo do Irã voltou a criticar abertamente o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusando-o de usar as sanções econômicas como um instrumento de manipulação midiática e pressão psicológica. Em um momento de crescente tensão no Oriente Médio, Teerã afirmou que o “vaivém” de sanções promovido durante o mandato de Trump teve mais motivações políticas e propagandísticas do que fundamentos estratégicos ou de segurança nacional.
A crítica foi feita por porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores iraniano após declarações recentes de Trump durante comícios eleitorais, nas quais o ex-presidente insinuou que, caso reeleito, retomaria a política de “pressão máxima” contra o Irã e reforçaria sanções suspensas durante o governo Biden.
Irã vê sanções como ferramentas de guerra psicológica
Segundo autoridades iranianas, as sanções impostas durante o governo Trump, especialmente após a retirada unilateral dos EUA do Acordo Nuclear de 2015 (o Plano de Ação Conjunto Global, ou JCPOA), tiveram efeitos catastróficos na economia iraniana, mas também foram usadas como ferramenta de desestabilização política e psicológica.
“O governo Trump utilizou as sanções como instrumentos de guerra híbrida: não apenas para sufocar a economia iraniana, mas para criar um ambiente de incerteza e caos, tanto internamente quanto internacionalmente. Foi um jogo psicológico para moldar a percepção pública e provocar a reação da comunidade internacional”, afirmou Nasser Kanaani, porta-voz da diplomacia iraniana.
O Irã afirma que muitas das sanções foram anunciadas com grande estardalhaço em canais de imprensa aliados à antiga administração norte-americana, mas sem impactos práticos novos. “Era mais propaganda do que ação concreta. Anunciavam velhas sanções como se fossem novas, apenas para aumentar a tensão”, disse Kanaani.
Retirada do acordo nuclear gerou crise diplomática
Em 2018, Donald Trump rompeu com o acordo nuclear negociado durante o governo Obama, alegando que o Irã continuava desenvolvendo armas nucleares de forma encoberta — uma acusação sempre negada por Teerã. A medida foi amplamente criticada por aliados europeus, como França, Alemanha e Reino Unido, que consideraram a saída dos EUA como um erro geopolítico com graves consequências para a estabilidade regional.
Desde então, o Irã começou a retomar gradualmente atividades nucleares que haviam sido limitadas pelo acordo, como o enriquecimento de urânio em níveis acima do permitido. A postura de confronto foi intensificada com o assassinato do general Qassem Soleimani, em janeiro de 2020, por um ataque aéreo ordenado por Trump em Bagdá — um evento que quase desencadeou um conflito armado direto.
Sanções impactaram economia, mas também aumentaram resistência
As sanções afetaram fortemente setores-chave da economia iraniana, como petróleo, bancos e comércio internacional. No entanto, líderes iranianos argumentam que as medidas também contribuíram para o fortalecimento de uma economia de resistência e o incentivo à produção interna.
“O que Trump não entendeu é que a pressão extrema unificou ainda mais o povo iraniano contra o imperialismo e acelerou nossa independência tecnológica e produtiva”, disse o presidente iraniano Ebrahim Raisi em discurso recente.
Nos últimos anos, o Irã tem buscado ampliar parcerias comerciais com países como China, Rússia e Índia, tentando contornar o isolamento imposto pelo Ocidente. A assinatura de um acordo de cooperação estratégica de 25 anos com Pequim é um exemplo dessa reorientação diplomática.
Perspectivas com possível retorno de Trump à presidência
Com Donald Trump novamente como pré-candidato à presidência dos EUA nas eleições de 2024, cresce a preocupação em Teerã sobre a possibilidade de um retorno à política de confronto e imposição de sanções.
Autoridades iranianas afirmam que um novo governo Trump representaria um retrocesso nos avanços diplomáticos alcançados sob a gestão Biden, incluindo negociações indiretas para a retomada do JCPOA.
“O mundo viu o fracasso das políticas de Trump. Repetir os mesmos erros só levará a mais instabilidade no Oriente Médio e além”, declarou o chanceler iraniano Hossein Amir-Abdollahian.