
O atacante Mehdi Taremi, um dos principais nomes da seleção iraniana de futebol, vive um momento delicado fora dos gramados. Após a precoce eliminação do Irã na fase de grupos do último Mundial, realizado no Catar, o jogador deixou Teerã, capital do país, e retornou à sua cidade natal no sul do Irã. No entanto, apesar de estar longe dos holofotes da capital, Taremi ainda enfrenta restrições severas de mobilidade impostas pelo regime iraniano e segue impedido de deixar o país.
A situação do jogador ganhou repercussão internacional nas últimas semanas, sobretudo após rumores de que ele teria sido convocado a prestar esclarecimentos por manifestações feitas durante a competição e em suas redes sociais, interpretadas pelo governo como críticas indiretas ao regime dos aiatolás.
Participação no Mundial e posicionamento polêmico
Durante o Mundial, Taremi foi um dos destaques da seleção iraniana, marcando gols importantes e se posicionando de forma discreta, mas simbólica, ao lado dos companheiros que, na estreia, optaram por não cantar o hino nacional como forma de protesto contra a repressão interna no país.
O gesto foi amplamente interpretado como um apoio velado aos movimentos populares que tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, jovem de 22 anos que faleceu sob custódia da chamada “polícia da moral” por supostamente usar o véu de forma inadequada. A morte gerou protestos em diversas cidades iranianas, inclusive entre atletas e figuras públicas.
Embora Taremi nunca tenha feito declarações explícitas contra o governo, fontes locais afirmam que o atacante foi alvo de investigações informais e teve passaporte retido temporariamente após o retorno ao país, impedindo sua saída para compromissos com clubes estrangeiros.
Impedido de retornar ao exterior
Mehdi Taremi, que estava atuando no futebol europeu — mais especificamente no FC Porto, de Portugal —, não conseguiu embarcar de volta à Europa após o término da competição. A Federação Iraniana de Futebol e o Ministério dos Esportes não divulgaram informações oficiais sobre a situação do atleta, mas jornalistas esportivos iranianos relataram que ele recebeu ordens para permanecer em território nacional “até segunda ordem”.
Nos bastidores, especula-se que o governo esteja utilizando a figura de Taremi como forma de demonstrar controle sobre as ações de celebridades e esportistas que tenham se envolvido, mesmo que indiretamente, com os recentes movimentos de protesto.
Repercussão internacional e silêncio do clube
O FC Porto, clube que ainda detém o contrato de Taremi, não se manifestou oficialmente sobre o caso. A imprensa portuguesa, contudo, tem acompanhado a situação com atenção e cobrando explicações diplomáticas por parte do Irã e das autoridades consulares envolvidas.
Entidades internacionais de direitos humanos e organizações ligadas ao esporte, como a FIFPro (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol), já demonstraram preocupação com a aparente restrição de liberdade imposta ao atleta e pedem transparência sobre os motivos da retenção.
O futebol como palco político no Irã
O caso de Taremi não é isolado. O futebol iraniano tem sido, historicamente, um palco de manifestações políticas, silenciosas ou explícitas. Atletas que se posicionam contra o regime, mesmo de forma sutil, frequentemente enfrentam consequências como exclusão de convocações, suspensão de contratos ou até mesmo detenções.
Em 2022, o jogador Voria Ghafouri foi preso por “insultar a seleção e propagar propaganda contra o governo”, após defender os protestos populares. O caso gerou comoção internacional e reforçou a percepção de que o esporte, no Irã, está profundamente entrelaçado com a política interna.