
A recente troca de ministros promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha como objetivo fortalecer a articulação política do governo no Congresso Nacional. No entanto, a movimentação não foi suficiente para evitar uma das maiores derrotas legislativas do terceiro mandato do petista. Mesmo após ajustes em pastas estratégicas e tentativas de aceno a partidos do Centrão, o governo foi surpreendido por uma votação que escancarou a fragilidade de sua base no Legislativo.
Na última semana, a Câmara dos Deputados aprovou com ampla maioria um projeto que contraria interesses do Palácio do Planalto, ignorando orientações da liderança do governo. A derrota foi interpretada como um sinal claro de que, apesar das mudanças ministeriais, Lula ainda enfrenta sérias dificuldades para consolidar uma base de apoio coesa e confiável.
Reforma ministerial: aceno que não surtiu efeito
A reforma ministerial promovida por Lula incluiu a saída de ministros ligados ao núcleo duro do PT e a entrada de nomes sugeridos por partidos como PP e Republicanos — legendas com forte presença na Câmara. A expectativa era de que a entrega de cargos importantes, como o Ministério do Esporte e o Ministério do Desenvolvimento Social, fosse suficiente para atrair votos favoráveis a projetos de interesse do Executivo.
Contudo, a movimentação foi recebida com desconfiança por parte do Congresso. Parlamentares alegam que a troca de cadeiras não foi acompanhada de maior diálogo, tampouco de garantias políticas e orçamentárias que sustentassem o apoio contínuo.
A derrota no plenário
O episódio mais emblemático dessa crise de articulação foi a aprovação de um projeto que limita a atuação de decretos presidenciais em determinadas áreas, diminuindo o poder de regulação do Executivo. A medida foi aprovada por uma maioria expressiva — inclusive com votos de partidos teoricamente alinhados ao governo, como o MDB e o PSD.
A votação revelou não apenas a insatisfação dos parlamentares com a condução política de Lula, mas também a crescente autonomia do Congresso sob a liderança de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Lira, mesmo após negociações com o Planalto, não interveio para conter a base rebelde, o que foi interpretado como uma demonstração de força e independência do Legislativo frente ao Executivo.
Base frágil e agenda ameaçada
A consequência imediata da derrota é o risco à agenda do governo. Projetos considerados prioritários, como a reforma tributária, o novo arcabouço fiscal e a regulamentação da reforma administrativa, podem sofrer atrasos ou desidratações caso o governo não recupere sua capacidade de articulação.
Analistas políticos apontam que o governo Lula, ao tentar equilibrar sua identidade política com a necessidade de governabilidade, tem encontrado dificuldade para agradar tanto a esquerda fiel quanto os partidos pragmáticos do centrão. Esse impasse dificulta votações importantes e coloca em xeque a eficácia do governo em sua terceira passagem pelo Planalto.
Reação do Planalto
Após a derrota, integrantes do governo admitiram internamente que a reforma ministerial não teve o impacto desejado. O próprio Lula, segundo fontes do Planalto, teria se mostrado insatisfeito com a performance da articulação política e prometeu rever estratégias. Há quem defenda novas trocas, agora mirando a Casa Civil e a Secretaria de Relações Institucionais.
Além disso, interlocutores do presidente estudam ampliar o volume de emendas parlamentares e liberar mais recursos do orçamento para tentar “acalmar os ânimos” no Congresso.