
A menos de um ano e meio da realização da COP30 em Belém do Pará, o Secretário Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, afirmou que o mundo ainda tem “muito a fazer” até a conferência global, marcada para novembro de 2025. Em visita oficial ao Brasil, Stiell elogiou os preparativos da cidade-sede, mas fez um apelo direto aos líderes políticos: é hora de transformar promessas climáticas em ações concretas e mensuráveis.
A COP30, que será a primeira Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada na Amazônia, representa um marco histórico para a diplomacia ambiental global. Para Stiell, o simbolismo da região amazônica impõe um senso de urgência ainda maior. “Estamos diante de um ponto de virada. A Amazônia é um dos principais termômetros da saúde climática do planeta. O que for discutido e decidido em Belém terá impactos globais duradouros”, disse o chefe do Clima da ONU.
Belém se prepara, mas desafios são grandes
Embora Belém esteja mobilizada para receber milhares de chefes de Estado, especialistas, ativistas e jornalistas de todo o mundo, o desafio logístico ainda é imenso. A cidade precisa realizar obras de infraestrutura, ampliar a rede hoteleira, reforçar o sistema de transporte e garantir segurança e conectividade digital para os participantes.
Governos estadual e federal têm trabalhado em conjunto para viabilizar essas melhorias. O Ministério do Meio Ambiente, sob comando de Marina Silva, considera a COP30 uma oportunidade única de reposicionar o Brasil como liderança ambiental. No entanto, o cronograma é apertado e dependerá de execução eficiente e recursos contínuos.
Agenda climática travada
Além dos preparativos físicos para o evento, o conteúdo das negociações internacionais preocupa a ONU. Simon Stiell destacou que os compromissos assumidos na COP28, em Dubai, ainda não foram suficientemente implementados. Entre os principais entraves estão a transição energética justa, a redução urgente das emissões de gases de efeito estufa e a operacionalização do Fundo de Perdas e Danos para países vulneráveis.
“O relógio climático está correndo. Muitos países ainda estão falhando em apresentar planos nacionais de ação ambiciosos. A COP30 precisa ser um ponto de virada. Não há mais espaço para inércia ou discursos vazios”, declarou Stiell.
O Brasil, segundo o representante da ONU, pode ser um protagonista nesse esforço global, desde que mostre resultados concretos na redução do desmatamento e no avanço de energias renováveis.
Sociedade civil será protagonista
Stiell também enfatizou o papel da sociedade civil e dos povos indígenas na COP30. Para ele, a conferência em Belém precisa ser a mais inclusiva da história. “Queremos ouvir as vozes da floresta. Os povos tradicionais e indígenas não podem ser apenas convidados; eles devem ser protagonistas nas discussões”, afirmou.
Organizações sociais brasileiras estão se articulando para garantir representatividade nos debates e pressionar por políticas ambientais mais rígidas. Movimentos da juventude, como Fridays for Future e Engajamundo, também planejam caravanas e eventos paralelos para reforçar sua presença.
Expectativas para a COP30
A COP30 será decisiva para avaliar o progresso do Acordo de Paris, assinado em 2015. Os países precisam apresentar novas metas nacionais mais ambiciosas, conhecidas como NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Além disso, será uma oportunidade de reforçar a cooperação internacional para frear o avanço do aquecimento global, que já ultrapassa 1,2 °C acima dos níveis pré-industriais.
Com a ciência alertando sobre impactos irreversíveis, como eventos climáticos extremos, secas, enchentes e perda de biodiversidade, a conferência em Belém terá o peso de decisões que moldarão as próximas décadas.