
A relação entre o espaço e o clima da Terra é mais próxima — e complexa — do que muitos imaginam. Cientistas vêm reunindo evidências de que explosões estelares massivas, conhecidas como supernovas, podem ter desempenhado um papel significativo em mudanças climáticas globais ocorridas há milhões de anos. Novas pesquisas sugerem que a radiação emitida por supernovas próximas pode ter impactado diretamente a atmosfera terrestre, alterando padrões de temperatura e precipitação e até contribuindo para eventos de extinção em massa.
Neste artigo, explicamos como isso seria possível, o que a ciência já sabe sobre essas influências cósmicas e como esses achados podem mudar a forma como entendemos o passado — e o futuro — do clima do planeta.
O que são supernovas e por que são tão poderosas?
Supernovas são eventos astronômicos extremos: a explosão de uma estrela massiva no final de seu ciclo de vida. Quando uma estrela muito maior que o Sol fica instável e esgota seu combustível nuclear, ela colapsa sobre si mesma e explode, liberando quantidades colossais de energia, luz e radiação.
Essas explosões geram ondas de choque, partículas energéticas (como os raios cósmicos) e elementos químicos pesados que se espalham por vastas regiões do espaço. Quando uma supernova ocorre relativamente próxima da Terra — digamos, a até 300 anos-luz de distância — seus efeitos podem atingir diretamente o nosso planeta.
A ligação entre supernovas e o clima da Terra
Estudos recentes, especialmente nas áreas de astrofísica e paleoclimatologia, indicam que a radiação de supernovas pode influenciar o clima terrestre por meio da ionização da atmosfera superior.
Esse processo pode afetar a formação de nuvens e alterar o balanço energético da Terra, resultando em mudanças de temperatura e precipitação ao longo de milhares ou até milhões de anos. Além disso, o aumento de raios cósmicos pode gerar efeitos colaterais como:
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Aumento da formação de nuvens baixas, que refletem mais luz solar e provocam resfriamento;
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Destruição parcial da camada de ozônio, aumentando a exposição à radiação ultravioleta;
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Alterações na circulação atmosférica global.
Esses efeitos, embora sutis em escalas de tempo curtas, podem ser significativos quando considerados em períodos geológicos longos.
Evidências geológicas: o que dizem os fósseis e os sedimentos?
Pesquisas conduzidas por universidades como a Universidade de Copenhague, Harvard e a Universidade de Illinois analisaram isótopos radioativos em sedimentos oceânicos e fósseis, como o ferro-60 (⁶⁰Fe), que é um marcador confiável de supernovas próximas.
Esse isótopo não ocorre naturalmente na Terra em grandes quantidades e tem uma meia-vida de cerca de 2,6 milhões de anos. A presença de ferro-60 em camadas geológicas específicas indica que partículas de supernovas atingiram o planeta em determinados períodos do passado.
Curiosamente, alguns desses depósitos coincidem com períodos de resfriamento global, como a Era do Gelo do Pleistoceno, sugerindo uma possível correlação entre as explosões estelares e eventos climáticos significativos.
Uma supernova pode ter causado uma extinção em massa?
Embora ainda haja controvérsia na comunidade científica, alguns pesquisadores acreditam que supernovas podem ter contribuído para extinções em massa ao enfraquecer a camada de ozônio da Terra, aumentando a radiação UV que atinge os ecossistemas.
Um estudo de 2020, publicado no periódico Astrobiology, propôs que uma supernova ocorrida a cerca de 65 anos-luz da Terra poderia ter influenciado a extinção do Devoniano Tardio, há cerca de 360 milhões de anos. Naquele período, diversas espécies marinhas desapareceram de forma abrupta.
A hipótese é que o aumento da radiação ionizante levou ao colapso das cadeias alimentares aquáticas, já que o fitoplâncton, base da cadeia, é altamente sensível à radiação UV.
Impactos na atmosfera: o papel dos raios cósmicos
Quando a Terra é bombardeada por raios cósmicos vindos de uma supernova, esses feixes de partículas energéticas interagem com a atmosfera e com os campos magnéticos do planeta. Isso pode causar um aumento na nucleação de nuvens, fenômeno pelo qual gotículas de água se formam ao redor de partículas carregadas, formando nuvens mais densas e persistentes.
Mais nuvens → menos radiação solar atinge a superfície → resfriamento global.
Esse mecanismo tem sido estudado por físicos como Henrik Svensmark, que defende a influência dos raios cósmicos no clima como uma alternativa ou complemento às explicações baseadas apenas em gases do efeito estufa.
E se uma supernova ocorresse hoje?
O risco de uma supernova próxima à Terra nos próximos milhões de anos é considerado baixo, mas não impossível. Algumas estrelas que estão na “zona de risco” incluem Betelgeuse, uma supergigante vermelha a cerca de 640 anos-luz da Terra. Apesar da distância ainda segura, ela é observada com atenção por astrônomos, já que está em estágio avançado de vida.
Se uma supernova ocorresse a menos de 100 anos-luz de distância, seus efeitos poderiam incluir:
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Danos à camada de ozônio;
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Aumento da radiação ultravioleta;
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Interferência em redes de satélites e eletrônicos;
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Impactos no clima a médio e longo prazo.
Por outro lado, supernovas distantes continuam sendo fontes de estudo valiosas para entender o funcionamento do universo e a origem de muitos elementos químicos que compõem a própria vida na Terra.
Implicações futuras: por que essa descoberta é importante?
Estudar o impacto das supernovas no clima da Terra nos ajuda a entender que o sistema climático do nosso planeta é altamente interligado a fatores externos — inclusive galácticos. Isso não invalida o papel dos gases de efeito estufa ou da atividade humana nas mudanças climáticas atuais, mas amplia o horizonte sobre os múltiplos agentes que moldam o clima ao longo do tempo.
Além disso, compreender como eventos cósmicos afetam a Terra também é fundamental para a astrobiologia — o estudo da vida no universo — e para avaliar os riscos reais de eventos astronômicos catastróficos.
Conclusão
A ciência avança rapidamente na compreensão da relação entre o espaço e o clima da Terra. A hipótese de que supernovas próximas podem ter afetado o clima terrestre em eras passadas é cada vez mais aceita, com base em evidências geológicas, químicas e físicas.
Se comprovada com mais rigor, essa teoria reforça a ideia de que a Terra, embora protegida por campos magnéticos e camadas atmosféricas, está longe de ser uma ilha isolada no cosmos. Pelo contrário: somos profundamente conectados às forças do universo, tanto no passado como no futuro.
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